Nos últimos meses do atual governo municipal, uma iniciativa de alto valor financeiro chamou a atenção da população e movimentou bastidores políticos em Volta Redonda. O lançamento de uma licitação para erguer um clube voltado ao hipismo na Ilha São João acendeu discussões sobre prioridades e uso de recursos públicos. A proposta surgiu em meio à reta final de gestão, o que reforçou o debate sobre os critérios adotados na escolha de projetos de grande porte. O anúncio oficial veio por meio de um edital que estipula um teto de investimento elevado, o que imediatamente gerou reações diversas.
A localização escolhida para o projeto é uma das áreas mais simbólicas do município, frequentemente utilizada para eventos de grande porte e atividades recreativas. Transformar esse espaço em um equipamento voltado ao esporte equestre levanta questionamentos sobre acessibilidade, impacto urbano e a adequação às demandas reais da população. Embora defensores da ideia argumentem que se trata de uma valorização esportiva e turística, outros setores enxergam como uma intervenção com pouca conexão com as necessidades urgentes da cidade.
Especialistas em urbanismo e planejamento regional chamam atenção para a magnitude do valor envolvido. Em tempos de restrições orçamentárias e desafios nos serviços essenciais, um investimento de tal porte para a criação de uma instalação esportiva especializada pode ser visto como deslocado das prioridades locais. O argumento de que a estrutura pode estimular economia e turismo é contraposto por quem aponta falhas estruturais em setores como saúde e educação, que demandariam atenção imediata.
Além do impacto financeiro, há uma discussão importante sobre o legado que essa obra deixaria. A poucos meses do encerramento da atual gestão, muitos questionam se haveria tempo hábil para o início e desenvolvimento adequado da construção. Isso levanta o receio de que o projeto se torne um símbolo de promessas políticas não finalizadas, o que já ocorreu em administrações anteriores em diversas cidades do país. A memória coletiva carrega exemplos de obras anunciadas em fim de mandato e que acabaram abandonadas ou inacabadas.
Moradores e lideranças comunitárias também vêm se manifestando quanto à transparência da proposta. A publicação do edital, embora formalmente legítima, foi vista com surpresa por boa parte da população, que esperava a destinação de recursos para outras áreas mais diretamente ligadas à qualidade de vida cotidiana. Essa percepção de distanciamento entre gestão e população ativa contribui para o aumento das críticas ao projeto. A escolha de uma atividade com apelo restrito contribui para a sensação de exclusão social no uso de bens públicos.
Outro aspecto que merece atenção é a manutenção de uma estrutura dessa dimensão após sua construção. Equipamentos esportivos de alto custo exigem planejamento contínuo, com equipe técnica qualificada e orçamento compatível para garantir funcionamento adequado. Sem uma política clara de gestão e sustentabilidade, a edificação corre o risco de se tornar um espaço subutilizado. A falta de histórico de incentivo consistente ao esporte equestre na região também coloca dúvidas sobre a adesão do público ao projeto.
Enquanto o debate se intensifica, parte dos cidadãos pede a revisão da proposta, ou ao menos a abertura de um diálogo mais amplo com a sociedade civil. As decisões sobre grandes investimentos públicos devem envolver participação ativa da população, especialmente quando se trata de bens comuns e de alto valor. A transparência na condução de processos licitatórios e a clareza nos critérios de escolha são pilares fundamentais da boa governança. Sem esses elementos, a iniciativa pode comprometer a imagem da gestão pública local.
Por fim, o momento político em que a proposta foi apresentada não passa despercebido. O contexto pré-eleitoral sempre levanta suspeitas sobre as intenções por trás de grandes anúncios. A impressão de que ações são tomadas com foco em repercussão pública e não em planejamento de longo prazo prejudica a credibilidade das administrações. Assim, qualquer investimento deve ser cuidadosamente avaliado, para garantir que os recursos públicos estejam sendo aplicados em benefício de toda a população e não apenas de interesses pontuais.
Autor : Prospyre Batari Frash