Em tempos de crise: cavalo e política se misturam

Prospyre Batari Frash
By Prospyre Batari Frash 7 Min Read

Em meio a tantas questões geradas pela pandemia do Coronavírus (COVID-19), surge nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens instantâneas, discussões sobre o futuro da sociedade. Em tempos de crise: cavalo e política se misturam?

Duas são as principais divergências: de um lado o bem-estar social, de outro, o lado econômico. Contudo, sempre aparece alguém dizendo que “esse grupo é sobre cavalo ou é sobre política?” ou “deixemos a política de lado, nosso interesse é cavalo”. Dessa forma, estaria o mundo do cavalo fora do cenário político?

Por isso resolvi analisar alguns cavalos ‘políticos’.

Incitatus
Incitatus era o cavalo do imperador romano Calígula (37-41 d.C.). De acordo com o escritor Suetônio na obra ‘As vidas dos doze Césares’, Calígula desejou torna-lo cônsul do Império Romano, o cargo político mais alto.

Suetônio conta, que para que “ninguém perturbasse o sono do seu cavalo Incitatus na véspera dos jogos circenses, costumava, com seus soldados, impor silêncio à vizinhança.

Construiu para este cavalo uma estrebaria de mármore e deu-lhe uma manjedoura de marfim, arreios de púrpura e um colar de gemas. E mais ainda: uma casa, domésticos e mobiliário, a fim de que os convidados em seu nome fossem suntuosamente recebidos”.

Bucéfalo
Bucéfalo cavalo do imperador Alexandre, o Grande, rei da Macedônia. Na biografia de Plutarco, o autor escreve sobre a proeza de Alexandre e Bucéfalo. Filipe, pai de Alexandre, “derramou lágrimas de alegria e, quando Alexandre desmontou, o beijou, dizendo: ‘Meu filho, busque um reino igual a ti mesmo; a Macedônia não tem lugar para ti’”.

Alexandre e Bucéfalo conquistaram vários territórios, seguiram juntos até a morte do cavalo logo após a Batalha de Hidaspes (antes Índia, hoje Paquistão).

O autor conta que Bucéfalo morreu “de feridas para as quais ele estava sob tratamento, mas segundo Onesicrito, de velhice, tendo se tornado bastante esgotado; pois ele tinha trinta anos quando morreu”.

Dessa forma, sua morte afligiu Alexandre poderosamente, que sentiu que não havia perdido nada menos que um camarada e um amigo. O Rei construiu uma cidade em sua memória nas margens do Hydaspes e chamou Bucephalia (atual cidade de Jhelum, no Paquistão).

ar Admiral para vencer e “95% de todos os outros jornalistas acreditavam que a aristocracia açoitaria o iniciante ocidental”.

O Public Broadcasting Service escreveu: “se um cavalo como Seabiscuit poderia triunfar sobre as piores dificuldades, muitos americanos devem ter se sentido assim como eles. ‘O país inteiro está dividido em dois campos’, observou o jornalista David Boone. ‘Se o assunto fosse adiado por mais uma semana, haveria uma guerra civil entre o almirante americano e o americano Seabiscuit’”.

Para Gene Smith, “esta é a história de todos os contos de fadas felizes que mamãe leu para nós quando estávamos no berçário. E para uma nação cheia de depressão, ansiosa e assustada, deve ter chegado como um grande nascer do sol”.

Cavalo de Troia
O famosa expressão popular ‘presente de Grego’ surge, portanto, do cavalo de madeira construído durante a Guerra de Troia. O conflito entre gregos e troianos, contado pelo poeta Homero em ‘Ilíada’ e em ‘Odisseia’, descreve a construção, pelos gregos, de um grande cavalo de madeira presenteado aos troianos como forma de rendição.

Durante a noite, enquanto os troianos comemoravam a vitória sobre os gregos, saíram de dentro do cavalo guerreiros gregos que dominam os sentinelas e abrem as portas da muralha de Troia para seu exército.

Não se sabe ao certo se o cavalo de Troia existiu ou se trata de uma lenda. Muitos historiadores, apontam para essa possibilidade, pois encontraram máquinas de guerras, como o aríete, com formato de animais.

Cavalos e a política: o que o Covid-19 nos apresenta
Obviamente que cavalo também é política, vide as resoluções, decretos e leis envolvendo as práticas e normas esportivas. Contudo, no atual momento, a crise pandêmica gera conflitos de pensamentos e ideais, inclusive no mundo dos cavalos.

Hanna Arendt fala que “a política trata da convivência entre diferentes”. O que emerge neste contexto são os lados, desde a Revolução Francesa, onde a sociedade coloca fim a um sistema absolutista, dando formas ao sistema democrático, ao Estado Moderno que temos hoje.

Colocando normas, regras, leis para a sociedade. Temos, então, o Estado como a grande ‘consciência’ da sociedade. Assim como Calígula, querendo a seu interesse nomear seu cavalo como cônsul, também temos pessoas que usam o Estado a seu interesse.

Lembra da história do Seabiscuit? Com a Grande Depressão, o Estado assumiu as rédeas, criando políticas de promoção social. Organizador da economia, surge o Estado de Bem-Estar Social. Porém, os interesses econômicos particulares são maiores, acabam assumindo o Estado e instaura um a nova forma de ver o Estado: liberalismo. Com discurso que o mercado regulariza a sociedade.

Isolamento x Volta ao Trabalho
Devemos nos isolar para evitar a crescente pandemia ou devemos voltar a trabalhar para evitar uma possível recessão econômica? Esta é a dúvida de toda a sociedade, assim como dos envolvidos com a agricultura e pecuária.

Porém, as questões não são essas. Obviamente que devemos pensar na vida do outro e seus riscos de contaminação e morte, que seja 1, 10 ou 7 mil mortes, devemos trabalhar sempre pela vida.

Questões econômicas podem ser resolvidas com um Estado fortalecido e preparado com políticas seguras. Crises econômicas sempre tivemos e sempre teremos, é assim que o capital sobrevive, o cavalo também sobreviverá. Entretanto, a vida não tem como recuperá-la.

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